A imersão é um processo ATIVO
Autora: Carol Scherlovski

Bruna é minha amiga desde a faculdade. Hoje ela é casada, tem dois filhos, e mora em Ann Arbor, Michigan, há 8 anos, desde que o marido foi transferido para Detroit pela empresa onde trabalha. Ela não trabalha e passa o dia cuidando dos filhos e da casa.

Julia é minha outra amiga desde a faculdade. Ela é casada há 10 anos, tem um filho e mora em São Paulo, onde trabalha como gerente de relacionamento em uma grande empresa de consultoria.

Bruna mora em um bairro onde vivem muitos expatriados. Muitos deles são seus vizinhos, inclusive. São as pessoas com as quais ela convive lá – afinal, os americanos não são tão dispostos a fazer novos amigos assim. Eles costumam se encontrar no final de semana para fazer um churrasco no quintal, e sabem que podem contar um com o outro se precisarem de qualquer coisa.

Julia sempre quis crescer na carreira. Por isso, até pouco antes de seu filho nascer, cursava mestrado em uma faculdade renomada. Formou-se no mestrado e continuou estudando inglês, língua que começou a aprender na adolescência, e que hoje faz parte do seu dia-a-dia. A empresa onde ela trabalha é uma multinacional norte-americana. Sendo assim, tem muitas reuniões e faz muitos relatórios em inglês. Além disso, Julia gosta muito da língua, então escuta músicas e podcasts em inglês no carro. Em seu tempo livre, assiste a filmes estrangeiros com legenda em inglês para treinar. Quando precisa se informar sobre algum assunto, procura artigos escritos em inglês e sempre lê livros na língua original (inglês ou português, dependendo da obra).

Bruna tem a preocupação de manter contato com suas origens. Ela quer que os filhos cresçam sabendo português e comendo arroz com feijão. Por isso, na casa deles em Ann Arbor eles assistem aos programas de TV do Brasil. Bruna deixa os filhos assistirem desenho dublado e incentiva-os a ler livros traduzidos.

Qual das duas você acha que fica mais à vontade para conversar com um estrangeiro? Qual das duas tem mais conhecimento de inglês? Qual delas tem maior repertório de vocabulário?

As histórias das minhas amigas ilustram como a imersão é um processo ativo. A predisposição para viver em um outro idioma independe do lugar onde a pessoa vive. É uma escolha, muito mais fácil de fazer hoje em dia, quando temos acesso instantâneo a todos os meios de comunicação estrangeiros. Tudo que uma pessoa precisa fazer é estar disposta a apertar a tecla SAP da televisão, colocar o menu do celular em outra língua, fazer busca em sites que terminem em .com, buscar entrevistas ou filmes para ouvir pessoas falando no idioma de seu interesse, aproveitar todas as oportunidades de conversar com um estrangeiro, por exemplo.

No que diz respeito a aprender uma nova língua – e ignorando todos os demais aspectos culturais, profissionais e pessoais – morar no exterior pode ser uma experiência muito rica. Mas somente quando a pessoa se envolve nesse novo idioma. Felizmente isso, hoje em dia, pode ser alcançado de qualquer lugar do mundo com acesso à internet.

Falemos sobre inglês o que pode ser feito em espanhol, francês, italiano, ou outra língua. A pessoa que deseja melhorar seu inglês deve tentar usá-lo sempre que possível. Por exemplo, ao assistir um programa e descobrir que se fala: ”The rain is heavy now”, anote “the rain is heavy”, e repita em voz alta algumas vezes. Quando um amigo ou professor corrigir sua pronúncia, ao invés de balançar a cabeça dizendo: “Tá, entendi”, repita em voz alta pelo menos três vezes depois que a pronúncia estiver correta. “heavy rain, heavy rain, heavy rain”. Ou por acaso alguém conhece um bom chef que tenha aprendido a cozinhar só olhando?

Use o idioma que você quer aprender. Traga-o para sua vida. Responsabilize-se por proporcionar esse contato. Desafie-se.

Sim, demora. E sim, vale a pena.

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