Para os leigos pode não haver diferença. Porém, os estudiosos do assunto como os lingüistas ou os bons professores e instrutores de língua estrangeira sabem que existe uma diferença essencial nesta terminologia.
A língua materna ou nativa, adquire-se.
A língua estrangeira, aprende-se.
Adquire-se a língua materna ou nativa por exposição natural, sem pressão e em geral num ambiente de muito aconchego.
Aprende-se uma língua estrangeira por necessidade, não raro com algum tipo de pressão, e estudando-a.
Filhos bilíngues
Adquire-se a língua materna já no ventre materno. Talvez aí esteja a razão do nome (apesar de o termo não ser bem vindo pelos acadêmicos). A aquisição continua a se dar no lar, no convívio com o pai e a mãe e no relacionamento social. Filhos de pais de nacionalidades diferentes e que falam constantemente com seus filhos nas suas respectivas línguas maternas, podem criar filhos bilíngües. Acredito que esta seja a razão de o termo “língua materna” ser atualmente refutado por acadêmicos, já que ao adquirir a língua que o pai fala com o filho, a criança não está adquirindo a língua “paterna”, mas sim, a primeira forma de linguagem verbal que utilizará para comunicar-se com os pais. Um idioma com a mãe, outro com o pai. Porém, ambas terão sido a primeira forma de linguagem que a criança adquiriu.
Foi exatamente o que ocorreu comigo. Sou bilíngüe em catalão e em português. Catalão era a língua que fazia o corpo de minha mãe ressoar quando eu estava em seu ventre. Será que existe uma ligação mais visceral com um idioma do que sentir a sua vibração dentro do ventre materno? Aposto que poucas pessoas já pensaram nisto!!!
Minha mãe fala catalão comigo desde que nasci, e meu pai, português. Até hoje, converso com ela em catalão e com ele em português. Ambas, minha primeira língua. Não há uma linha que possa separar a primeira da segunda e garantir qual veio primeiro. A não ser durante a gestação, mas lá eu ainda não falava!! Vou ter que pensar e investigar mais um pouco para chegar a uma conclusão sobre este assunto.
Aprende-se uma língua estrangeira depois de já se ter adquirido a língua materna.
É possível sim, ADQUIRIR UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA, porém, é preciso se replicar a mesma situação de constante exposição e aconchego, ausência total de pressão, garantir que esta exposição ocorra com falantes nativos ou que soem exatamente como nativos, ter muito tempo para adquiri-la (mais ou menos sete anos, como na aquisição da língua materna), e ter-se menos de 14 anos. Se todas estas condições não forem atendidas simultaneamente, em muitos momentos haverá aprendizado e não aquisição, que é um processo 100% natural.
Quando foi que APRENDEMOS a língua materna?
Quando começamos a estudar sua morfologia e sintaxe nas AULAS DE PORTUGUES no COLÉGIO. Lembram-se? Quem gostava daquilo? Quase ninguém. Claro! Havia pressão, o ambiente não era tão aconchegante quanto o do lar, e acima de tudo não víamos necessidade e muito menos sentido em aprender algo que afinal, já sabíamos. Ou acreditávamos que sabíamos!
Qual é o SEU caso?
- Aprendeu ou adquiriu português?
- Aprendeu ou está aprendendo uma língua estrangeira?
Se você estiver aprendendo uma língua estrangeira, talvez lhe interesse ler o artigo “Quero falar inglês como eu falo português”, que publicarei neste blog na semana que vem.
Monica Magri